Omagio a Eikoh Hosoe, de Cicchine

domingo, 17 de junho de 2007

Amarele

Amarele ele
ou então,
apenas queira amar ele.

Amarele
e veja o que acontece
antes que amarele a lua.

Antes que ele se esqueça.
Ou você.
Apenas, amarele.

E deixa ele, amarela.
E deixa ela, amarele.
Ela e ele.

Danieli Buzzacaro
01/06/2007

terça-feira, 5 de junho de 2007

Céu de blues

A realidade é um show de rock visto de um jeito especial.
E nós, não vemos o perigo,
Amamos loucamente e a luz penetra no ar.

Respiro e como...
Como tudo surreal.
É difícil não sentir o cheiro das cores.

Difícil não amar como se fosse fácil.
Sou tão piegas que já o céu se colore e diz o que sonhar.
Assim tudo se compõe.

Inferno e céu se amam na doce loucura que
É girar sob um céu de blues.

Consuma agora meu corpo antes que o amanhã consuma,
Entre as cinzas que bóiam no teu jardim.

E caem estrelas sob o verde.
Todo o teatro da vida alucinógeno.
Vinho na taça.
O rock escorrendo entre os dedos.
E nada mais.

O nada é o bastante.
Sonho e alimentação.
Tudo é alienação.

Com o cheiro da cor do estômago e
Felizes para sempre como tudo sempre foi.
Bolinhas anos 60 pairam entre a fumaça de sempre.


Danieli Buzzacaro
20/04/2007

segunda-feira, 4 de junho de 2007

Na multidão

Pessoas, em todos os lados, cantos, céus e arestas. Há tempos já não sei quantas eu vi. Muitas, eu sei. Nem ao certo sei quantas eu conheci, quantas eu toquei, quantas eu ouvi, quantas eu olhei.
Nada me agrada mais do que sentar-me em um ponto fixo e deixar que as pessoas sejam satélites em minha órbita.

Nestas horas, em que me sento na praça, acendo um cigarro e observo a multidão, sinto-me como Deus. Sei, isso pode até ser pecado, mas durante aquele momento em que sou atração principal e ao mesmo tempo passo despercebida a maioria dos olhos, sou Deus. Creio que Ele seja assim, todos os pensamentos e olhares Nele, por segundos e minutos eternos e mesmo assim ninguém nota sua presença.

As pessoas são apressadas, medrosas, lentas, loucas, enfurecidas, falantes, são tudo e são nada.
A raça humana é mesmo a mais estranha, cada um com seu comportamento sua cor, tudo é distinto demais para representar a mesma raça.

Às vezes não quero ser humana, analisando alguns humanos que passam, enquanto aproveito o vento gelado que brinca com a fumaça do meu cigarro, penso que sou tão diferente deles, e ao mesmo tempo tão igual, com os mesmos erros, os mesmos instintos, os mesmos dedos. Não queria ser o mesmo animal que eles, muitas vezes, mas sou condenada a ser quase sempre, não agora, que sou divina.

Tenho medo de a qualquer hora, meus instintos de humana se mostrarem. E mais medo ainda porque não conheço exatamente meus instintos. Talvez eu possa matar, a sangue frio, agora mesmo. Matar para alimentação é instinto, não é?

Mas enquanto não mato e não conheço meus instintos, continuo a ser Deus.

As crianças sempre são felizes, vivem em contos de fadas, mentes, mas são absolvidas sempre. Algumas conhecem a realidade cedo demais e assim viram adultos, e, passam em minha frente como os outros adultos, sisudos, rápidos, ou olhando para o nada, lentos e sonhando, com aqueles mesmos sonhos gastos. Enquanto isso as crianças na condição de crianças, são sorridentes, saltitantes e desajeitadas. A passagem para a vida adulta não são pêlos, corpos e vozes e sim a saída do conto de fadas e a entrada na realidade.

Cada pessoa que passa por mim, deixa o mundo de sua cor. Não cor de pele, mas sim a cor da alma. Algumas, coloridas, vão pintando cada ladrilho na calçada de uma cor, enquanto passam o mundo faz barulho e até eu, saio da minha condição divina e esboço um sorriso. Outras pintam o mundo de cinza e congelam tudo e todos. Nada mais se move, só há silêncio e vazio.

Meu coração deve ser assim, cinza. Um velho rabugento, quieto e vazio Ele tem a capacidade de se colorir, mas para isso precisa de um estimulo desses levanta defunto ou de algum outro ser humano, desses que são especiais.

O sol vai caindo e as pessoas aumentando, o termômetro marca 12°C e o relógio não marca nada. Jogo a ponta do último cigarro no chão, mesmo com a lixeira ao lado, em um último gesto divino, levanto-me e me perco na multidão. Agora, sou só humana e trato Deus igual aos humanos que me cercam.

O meu mundo vira azul, em um sopro de amor que há no coração, azul de fraterno, não vermelho de carne. E isto já não é importante, sou só mais uma na multidão.

Danieli Buzzacaro
30/05/2007

sexta-feira, 1 de junho de 2007

Poema às avessas

Ela, de sua torre
não sonha com nada
nada, além daquele príncipe.

Ele, de seu cavalo
já se cansou de procurar
agora, sentado, vê a chuva cair.

Os sonhos dela sempre foram a busca dele,
só eles não sabiam disso.

O dragão, descrente, morreu;
a princesa, de doença, definhou;
o cavalo, sorrateiro, passeia pela floresta;
e o príncipe, desencantado, troca fraldas.

Teriam sido felizes para sempre,
não fosse pela felicidade que amarelou.

Danieli Buzzacaro
30/05/2007